quinta-feira, 11 de outubro de 2012


Entrelaçando Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e os filmes Arquitetura da Destruição, 
Ballet Mecánique e Vincere

O Futurismo tinha em comum com o nazismo, o ideal de limpeza e a adoração a tudo que fosse relacionado à guerra, às máquinas, além da elevação da violência. Para os futuristas, através da guerra, o mundo seria higienizado com a destruição dos museus e de cidades antigas. De acordo com os futuristas, tudo que era novo possuía maior valor. Entretanto, Hitler valorizava os ideais clássicos. Ao contrário dos futuristas que também nutriam aversão ao presente, possuíam o desejo de voltar ao passado, ao período clássico, no auge de Roma e Grécia, ou seja, construir um novo futuro alicerçado nos ideais clássicos. Já os futuristas, desejavam um mundo diferente do presente, mas que não tivesse nenhuma relação com ideias do passado. O futuro deveria ser cheio de velocidade e máquinas. Os ideais do nazismo, que pela força de seu líder, quase se traduz em sua figura, Adolf Hitler, são representados em Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen e narra com detalhes a ascensão e a queda da Alemanha nazista com suas práticas “higiênicas” em busca de uma sociedade perfeita.



Mas o ideal de embelezamento do mundo do nazismo também era partilhado pelo Dadaísmo, entretanto eles não compartilhavam dos mesmos meios para alcançar esse ideal já que eram totalmente contrários à guerra. Nem dos princípios da velocidade e da adoração às máquinas do Futurismo os dadaístas se sentiam atraídos. O Dadaísmo buscava uma atualização da arte que estivesse de acordo com o homem moderno e seu alvo eram aqueles com valores tradicionais e que valorizavam noções artísticas convencionais. Esperavam conseguir essa mudança por meio do choque que causavam as suas apresentações. Enquanto os dadaístas idealizavam o novo na arte, assim como os futuristas, diferenciando-se pelos meios de se conseguir essas inovações, Hitler valorizava as obras clássicas, pois associava a arte moderna ao bolchevismo e aos judeus e a considerava degenerada, distorcendo o valor humano e representando as deformações genéticas existentes na sociedade.
Já o Surrealismo tem em comum com o Dadaísmo o ativismo para superar valores tradicionais artísticos, mas diferenciam-se no que tange aos ideais construtivos que os dadaístas não possuíam. A relação que se pode fazer com o nazismo seria a busca de um mundo totalmente diferente, um mundo de “sonhos”, mas por meio opostos. O primeiro, pela repressão, enquadramento e eliminação daqueles que não são considerados dignos de existência como os judeus e os deficientes, e o segundo, pela libertação dos instintos inconscientes, referência que faziam à psicanálise.
O Ballet Mécanique é uma obra de Férnand Léger, um pintor cubista de grande projeção. Possui valores futuristas, o que é compreensível pela influência que o Cubismo exerceu sobre o Futurismo. O filme possui muita velocidade com várias imagens do humano e da máquina se contrapondo e se justapondo numa espécie de fusão entre homem e máquina. Léger possuía fascínio pela sociedade industrial do século XX e, por isso, se dedicou a estudar geometria, formas e funcionamento das máquinas. O filme não possui sons humanos, apenas que remetam às máquinas, ao movimento veloz, quase ininterrupto, o movimento do progresso, da evolução por meio das máquinas. A violência com que as pessoas são manipuladas juntamente com a valorização das máquinas remete à medicina nazista que poderia ser traduzida pela manipulação genética ao ponto de “construir” o ser humano perfeito, ideal, limpo, perfeito e produtivo justamente como uma máquina.


Vincere, de Marco Belloccio, relata a trajetória de Ida Dalser em sua relação com Benito Mussolini, nos anos 20, no processo onde ele se torna um ditador na Itália, o II Dulce (O Líder). Mussolini também exaltava a guerra, assim como Hitler. Sua ascensão ao poder se deu por meio da guerra, da unificação de uma identidade da nação e da centralização da figura do líder como o único detentor da razão e da verdade, contrário até mesmo às religiões. A despeito de toda misoginia existente em todos os movimentos artísticos referenciados, o filme conta a história sob a ótica de uma mulher, vista como louca, na época.


Um trecho do Manifesto Futurista (1909), traduz o “espírito da guerra” partilhado tanto por Mussolini quanto por Hitler:
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Vincere+Arquitetura da Destruição+L'Etoile de Mer


Em pleno anos 20 do século XX, numa Europa assolada pela primeira guerra, a chamada Grande Guerra ou a Guerra da Guerras, e na iminência de uma segunda guerra mundial deste mesmo século, o surrealismo propõe, dentre inúmeros movimentos de vanguarda, mais um novo insólito olhar sobre o mundo moderno.
De forma a restaurar os poderes da imaginação, castrados pela hegemonia do utilitarismo vigente e pelos valores da sociedade burguesa, tais como pátria, família, religião, trabalho e honra, e perpassar a contradição entre objetividade e subjetividade, o movimento surrealista destinou-se à ampliação da consciência e a uma poética da alucinação através da libertação do inconsciente.
O curta-metragem L’Étoile de Mer, obra clássica do cinema surrealista dos anos 20, realizado por Man Ray no ano de 1928, compõe neste contexto uma atmosfera fluida e onírica, conseguida através de processos técnicos pouco ortodoxos, como a utilização de lentes embaçadas que configuram imagens esbatidas e fugidias.
A realidade concreta, a guerra, o culto ao belicismo eram desprezados, a postura humana negligencial, frente aos acontecimentos do indefinido contexto político entreguerras, se contrapunha ao desejo dos surrealistas de alcançar, justamente, o espaço no qual o humano pudesse se libertar de toda a repressão imposta pela razão e pelo constante controle do ego. O contraste entre o turvo e o nítido que se segue como premissa estética do curta-metragem de Man Ray parece nos prover de suficientes motivos para acreditar que se trata de uma época de extremos antagonismos.
O filme Vincere, produção franco-italiana dirigida por Marco Bellocchio, retoma este cenário a partir de um romance entre Benito Mussolini e Ida Dalser, supostamente a mãe de seu primogênito. Ida teria, nos primórdios da solidificação do partido nacional fascista, investido financeiramente com o jornal que culminou no maior colaborador com o ambicioso projeto totalitarista de Mussolini de governar a Itália. O longa-metragem evidencia, principalmente, a caracterizante estética fascista, a eclosão da propaganda, onde slogans aparecem em letras garrafais e teores panfletários invadem a tela; pensamentos estes são vinculados ao posicionamento bélico e imponente de um estado ditatorial.
Ida Dalser incorpora, talvez, um personagem de alma surrealista, caracterizado pela busca do indivíduo que procura não se anular frente as maquinações do totalitarismo. O indivíduo surrealista se ergue, essencialmente, numa posição existencial, numa forma de estar na vida que contesta tanto o racionalismo pedante quanto o espiritualismo dogmático. Neste sentido, combate todos os constrangimentos que reprimam o espírito livre do ser humano.
Os surrealistas foram, desde sempre, alvo de perseguições por parte dos diversos poderes instituídos, pouco interessados na divulgação destas propostas de Liberdade que pretendem reconciliar o indivíduo com a vida – "os regimes fascistas e sociais-fascistas prendem as ideias e as pessoas, não porque acreditem que elas na cadeia sejam menos ideias e pessoas mas por terem medo pânico delas", escreveu justamente Mário Cesariny.

Catálogo da Exposição Arte Degenerada


O documentário Arquitetura da Destruição produzido e dirigido pelo cineasta sueco Peter Cohen, no ano de 1988, percorre a construção da estética higienista pelo regime totalitarista nazista, encabeçado por Adolf Hitler, projetada através dos padrões ideais de beleza da Antiguidade Clássica, e enfatizando a grandeza das obras de arte do período.
 Logo no início do documentário, Cohen menciona que artistas frustrados eram uma constante no comando do Terceiro Reich, apesar de terem se empenhado bastante durante suas carreiras artísticas. Logo depois, apresenta-se Hitler como um aspirante arquiteto e pintor frustrado por sua não admissão na Academia de Artes de Viena, criando uma subsequente obsessão pela arte clássica, Richard Wagner e Linz, sua cidade natal.
Desconsiderando o pensamento sobre o belo durante a modernidade que se estendeu, o Nazismo subestimo u a arte moderna em geral, de forma a ignorar o desabrochar das vanguardas modernistas europeias e, com isso, dentro da lógica totalitária nazista, passou a chamá-la de arte degenerada. Durante todo o filme é possível constatar como Hitler fez com que as artes pudessem contribuir com o seu ambicioso e utópico projeto político.
Portanto, a ideologia exterminadora e megalomaníaca que permeia o período nazi-fascista é a máxima contrária dos ideais surrealistas. O Surrealismo rechaçou, em todas as instâncias imagináveis, o racionalismo bélico castrador do sujeito existencial e artisticamente livre. Assim, como no curta-metragem de Man Ray, onde o olhar se turva diante do belo não óbvio, e a perspectiva do neutro se manifesta nitidamente, o panorama da arte neste momento também se apresenta ambíguo e paradoxal.

terça-feira, 11 de setembro de 2012


No século XX as vanguardas européias propunham diferentes formas de pensar e produzir arte inspirados na velocidade e no dinamismo da produção industrial, e sobre influência de grandes transformações sociais que vinham ocorrendo desde o século anterior, como as unificações políticas nacionais, as disputas por mercados internacionais (coloniais), o socialismo e a consolidação do Estado liberal burguês.
De 1909 a 1924 o mundo viu surgir uma série de manifestos e movimentos que inovaram e revolucionaram a arte. Uma revolução que acompanhou a primeira grande crise política decorrente da nova ordem do capitalismo industrial, e que rompe de vez com a estética do século XIX.
Um destes movimentos foi o Futurismo, que surge em meio a uma convulsão política na Itália: o conflito austro-italiano. Encabeçado por Filippo Tommaso Marinetti, egípcio de ascendência italiana e de educação francesa, o Futurismo pretendia reformular as artes, rejeitando seu conceito de tradição histórica.
O primeiro manifesto futurista foi publicado no jornal parisiense Le Fígaro, no dia 20 de fevereiro de 1909. Ultrapassando as fronteiras italianas, num ímpeto de que o movimento fosse mundial e não apenas provincial, logo o Futurismo ganhou outros países e abrangeu diversos campos artísticos: teatro, performance, pintura, música etc. Ainda em 1909, Marinetti estreia no Théâtre de lÓeuvre a peça Roi Bombance, claramente inspirada no Ubu Roi e na patafísica de Alfred Jarry (1873-1907). Vale ressaltar que Jarry foi um artista anárquico, que atacava as convenções sociais de modo satírico e grotesco.
O Futurismo voltava-se contra o culto da tradição e da comercialização da arte, e louvava o militarismo patriótico e a guerra, além de expressar um forte sentimento misógino.
Em um de seus manifestos subseqüentes lia-se “velocidade e amor ao perigo”, e a instrução aos pintores de “ir às ruas, incitar a violência a partir dos teatros e introduzir o pugilato na batalha artística...” (RoseLee, 2006). Violência, combate belicoso, dinamismo, sons de artilharia e metralhadora foram os epígrafes desta forma de arte.
Marinetti chegou a ser preso junto com Benito Mussolini em 1915, por fazerem discursos intervencionistas pedindo a entrada da Itália na primeira grande guerra.
O longa-metragem Vincere (2009), produção franco-italiana dirigida por Marco Bellocchio, usa como título e tema uma canção famosa fascista chama Vincere (Vencer). É notável que em algumas sequências  o diretor utiliza a estética futurista para retratar o espírito desse tempo. Há trechos documentais, imagens de época, onde aparecem em destaque os cartazes futuristas, principalmente aqueles que serviram para propagar os ideais fascistas.
O filme trata da relação entre Benito Mussolini (Filippo Timi) e Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), que depois de casada com Mussolini dá luz a um filho, Benito Albino, que foi reconhecido, e em seguida renegado pelo pai.
Eles se conhecem em Milão, quando Mussolini é ainda um enérgico jovem socialista, revelando-se um líder radical que pretende orientar o povo italiano contra a Igreja e a monarquia. Apaixonada, Ida vende tudo o que tem para financiar o Il Popolo d`Italia,  jornal que se tornaria  núcleo do futuro Partido Fascista.  
Após alistar-se no exército e partir para a Primeira Guerra Mundial, Mussolini desaparece. Ida o reencontra tempos mais tarde casado com outra mulher. Indignada, ela exige seus direitos de esposa legítima e mãe de seu filho primogênito. Perseguida pela polícia do regime fascista no intuito de destruir qualquer vestígio de seu relacionamento com o ditador, Ida acaba sendo levada à força para um manicômio onde fica trancada por mais de 11 anos, sendo torturada, humilhada e impedida de ver seu filho.
Outro movimento importante da vanguarda artística moderna foi o Dadaímos, que surge em Zurique, também em meio a Primeira Guerra Mundial, mas logo ganha alcance internacional. Os dadaístas procuravam desmistificar uma sociedade que em prol da ciência e do progresso espalhavam a destruição e a carnificina.
Revoltados com a guerra “acreditavam que a única esperança para a sociedade era destruir aqueles sistemas baseados na razão e na lógica, substituindo-os por valores ancorados na anarquia, no primitivo e no irracional” (Dempsey, 2003).
O documentário “Arquitetura da destruição” (1989), produzido e dirigido pelo cineasta sueco Peter Cohen, mostra a perseguição sofrida por artistas, e a chacina monstruosa promovida pelos nazistas com o objetivo principal de “embelezar” o mundo.
Hitler era um pintor fracassado, artista frustrado, amante do classicismo e da obra de Wagner. Em 19 de julho de 1937 promove na cidade de Munique, na Alemanha, uma exposição que marca o ápice da campanha pública do regime nazista contra a arte moderna: a mostra internacional “Entartete Kunst”, a “Arte Degenerada”.
Dentre as obras expostas (confiscadas, e algumas destruídas) estão aquelas do movimento dada, assim como obras cubistas, expressionistas, surrealistas e de todos os movimentos modernos que se contrapunham ao ideal artístico nazista que visava recuperar as formas clássicas, e enaltecer o corpo e a condição física da raça ariana, sua “pureza e beleza”. Esses ideais funcionaram como peça chave da construção de um imaginário que buscava a recuperação da raça alemã, que supostamente encontrava-se degenerada pela contaminação de elementos inferiores e nocivos.
A razão torpe desse tempo de convulsões sociais foi mote para muitos artistas. Dentre eles o pintor e fotógrafo americano, Man Ray que junto a Marcel Duchamp fundou o movimento dada nova-iorquino, e posteriormente como cineasta lançou diversos filmes surrealistas.
O primeiro foi “Le Retour à La Raison” (1923), filmado em um só dia. O título é paradoxal, pois logo o filme revela-se inteiramente sem razão. A recepção não foi positiva causando uma reação violenta por parte do público que interrompeu a projeção após um minuto.
No primeiro manifesto surrealista lançado por André Breton em 1924, o movimento é exposto como “o pensamento que é expresso na ausência de qualquer controle exercido pela razão, e alheio a todas as considerações morais e estéticas” (Dempsey, 2003). Ao estarrecimento diante da promessa não cumprida pela modernidade, e o desgosto do homem em face de seu destino, resta o elogio a loucura como forma libertadora da imaginação, “o surrealismo libertaria o inconsciente, reconciliando com o consciente, e também livraria a humanidade dos grilhões da lógica e da razão, que até então haviam reduzido unicamente à guerra e à dominação” (Dempsey, 2003).
Neste sentido, o filme de Man Ray é totalmente despreocupado com a narrativa e a linearidade. Todo em preto e branco, a cena inicial é uma sequência de imagens granuladas, com pregos soltos e outros objetos metálicos colocados diretamente sobre a película; uma cone de papel, um relógio, um carrossel, e engrenagens de máquinas. Em meio a essas imagens uma palavra: “DANCER”; e o giro do torso nu de uma mulher.
Os significados e interpretações para estas sequências são múltiplos, cumprindo o propósito de atiçar os sentidos, numa atmosfera fantástica, e nos levando a pensar que a razão do homem é algo ininteligível.

Bibliografia:
Goldberg, RoseLee. A arte da performance: do futurismo ao presente. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Dempsey, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo - Cosac Naify, 2003.

sábado, 8 de setembro de 2012

Deslizante contendo moinho d’água em metais vizinhos 
“...usar permanência em vez de quadro ou pintura; pintura em vidro se torna permanência em vidro – mas permanência em vidro não significa pintura em vidro. É apenas uma maneira de se conseguir deixar de pensar que a coisa em questão é uma pintura (...) – poder-se-ia dizer uma permanência em vidro da mesma maneira como um poema em prosa ou uma escarradeira em prata” Marcel Duchamp, Duchamp du signe.



Marcel Duchamp (1882-1968) foi um pintor, escultor, e poeta francês naturalizado norte americano em 1955. Precursor da arte conceitual e criador dos ready mades que consistem no deslocamento de um objeto cotidiano em obra de arte, redefinindo os conceitos de espaço e de objeto artístico. Na arte conceitual as ideias importam mais do que o produto em si; e há uma forte crítica ao processo de produção e industrialização das obras de arte. No seu desenvolvimento a arte moderna rompe “... com todo padrão de representação que atribuía à arte a função essencial de retratar uma realidade natural ou histórica, e que até meados do século XIX introduzia seus objetos artísticos em um curioso jogo de representação em que estes como que buscavam ocultar de seus fruidores as marcas da sua própria natureza enquanto objetos de arte” [1].
Man Ray, 1917
Duchamp é também um expoente do movimento Dada. De alcance internacional, o dadaísmo representava um estilo de vida, um estado mental, onde o artista deveria destruir os valores baseados na razão e na lógica; lembrando que o fenômeno dada surgiu no pós-guerra, suscitando a indignação e a rebeldia dos artistas que viam na anarquia e no irracional uma forma de combater e rejeitar as tradições artísticas e de denunciar o absurdo e a hipocrisia nas relações humanas.
Glissière contenant un moulin à eau en métaux voisins, (Deslizante contendo moinho d’água em metais vizinhos) é uma escultura/pintura de 1913-15 em óleo, chumbo, fios de chumbo e vidro (147 x 79 cm) [2], contendo uma imagem prensada entre duas placas de vidro semicirculares, cuja moldura de metal é dividida em compartimentos onde assentam os vidros, montada numa dobradiça móvel que permite afastá-la da parede. É o primeiro estudo sobre vidro de Duchamp, que mais tarde passaria a integrar a obra “A noiva despida pelos celibatários, mesmo ou o Grande Vidro” (1913).
Duchamp teria a imaginado após visita a uma exposição de tecnologia da aviação. Inspirado nas mudanças tecnológicas e no pensamento científico da época ele cria uma série de obras que abordam o movimento das máquinas: “Moinho de café” (1911); “9 moldes málicos” (1914-15); “Triturador de chocolate” (1914); e “Roda de bicicleta” (1913) são algumas delas.





[1] “Arte e conceito em Marcel Duchamp: uma redefinição do espaço, do objeto e do sujeito artísticos” por José D’Assunção Barros em Domínios da Imagem, Londrina, ano I, n.2, maio 2008.
[2] Philadelphia Museum of Art. Philadelphia, PA, USA.



 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Atualizações

11/09 - Avaliação/Discussão sobre o livro "Perfomance nas Artes Visuais", de Regina Melim (para quem ainda não leu, não comprou, etc. o livro estará na pasta 336 da Multiuso a partir das 16h de hoje, quarta-feira;

11/09 - Data limite para postar as duas avaliações anteriores no blog (Marcel Duchamp e Vincere + Arquitetura da Destruição + Terceiro filme);

02/10 - Última aula.

domingo, 26 de agosto de 2012

GREVE IV: FIM DA GREVE

Conforme decisão da assembléia de sexta-feira, a greve chegou ao fim.
Retomaremos nossas aulas na terça-feira que se aproxima, dia 28/08/2012, às 19h, no Ateliê 8.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

GREVE III

Aguardaremos a assembléia/reunião de terça-feira, 21/08/2012, para sabermos se voltaremos às aulas ou se continuaremos em greve.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

GREVE II

Conforme conversa com a Profª Nivalda, nossas aulas estão suspensas devido à greve.
Maiores informações sobre o retorno das aulas serão informadas via blog e e-mail.

terça-feira, 22 de maio de 2012

GREVE

Hoje, dia 22/05/2012, não haverá aula devido ao início da greve. Fiquem atentos ao blog para maiores informações, pois poderemos retomar nossas aulas a partir da semana que vem (mesmo que a greve continue).

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Vincere, de Marco Bellocchio + Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen + Ballet Mécanique, de Fernand Léger




Em 1924, com o filme Ballet Mécanique, o artista Fernand Léger levava para o cinema de vanguarda um discurso acerca da velocidade do trabalho maquinal numa sociedade industrializada, em que novos elementos, como os produtos manufaturados, contrastam com a presença humana. Léger discorre sobre a interpretação de significados dentro de uma obra, mostrando cenas como aquela em que imagens do número zero ganham um sentido diverso na medida em que são relacionadas com determinada frase. O recurso da repetição está presente e estrutura o filme. As imagens de Ballet Mécanique remetem à velocidade maquinal presente na rotina da sociedade industrializada. Este tema de interesse para Léger se relaciona diretamente com os fundamentos do futurismo idealizado por Filippo Tommaso Marinetti, especialmente a paixão pela velocidade e pela tecnologia.



À época de Ballet Mécanique, os artistas do chamado cinema avant-garde encontraram nas imagens em movimento um campo vasto para a pesquisa de um novo espaço plástico; Léger explora abundantemente as trucagens possibilitadas pela montagem, por exemplo, e essa investigação de uma tecnologia relativamente recente permitia ao artista criar obras de arte que se colocassem como uma resposta – e como uma crítica- ao academicismo. Tal postura em relação à tradição acadêmica era uma das características do dadaísmo, que buscava desafiar o status quo em todas as suas instâncias e fora responsável por introduzir, com Marcel Duchamp, a noção de arte enquanto ideia, assim como a afirmação de que ela poderia ser realizada a partir de qualquer coisa. Em seu espírito transgressor, porém, o dadaísmo pouco se assemelha ao futurismo. Enquanto o primeiro buscava uma liberdade expressiva total, onde a guerra era, sobretudo, o alvo de uma indignação crítica, o segundo exaltava a guerra e consolidava seus preceitos sobre bases totalitaristas.

É importante apontar que o ano de Ballet Mécanique foi também o ano em que o poeta francês André Breton lançava o surrealismo, que, de forma semelhante ao dadaísmo, mas com outro viés, buscava uma revolta contra os moldes estabelecidos pela sociedade e prezava a libertação do inconsciente, propondo uma transformação no modo de pensar do homem. Tanto o dadaísmo quanto o surrealismo se opunham ferrenhamente à guerra e eram contra o pensamento burguês comum.
O futurismo, por outro lado, considerava a guerra como a “única verdadeira higiene do mundo”. Esta máxima, utilizada pelo italiano Marco Bellocchio em seu filme Vincere, para ilustrar a relação entre o pensamento totalitarista do fascismo e a corrente futurista, aponta que os ideais de transformação dos futuristas estavam imbuídos de valores fascistas.

Em Vincere, Bellocchio traça a trajetória de Ida Dalser, que reivindicava a legitimação pública como esposa de Benito Mussolini, então líder fascista em ascensão. Essa subida ao poder é mostrada pelo diretor com uma plasticidade que recorre a algumas características do futurismo; ao longo da narrativa, os acontecimentos históricos são abordados com o uso de imagens de arquivo e notícias de jornais da época. Letras saltam sobre a imagem, contribuindo para a atmosfera de tensão crescente que Bellocchio deseja conferir à sua obra. Em dado momento, Mussolini visita uma exposição futurista, selando a união entre a arte futurista e a política fascista e assim, vemos de relance algumas das famosas obras de artistas que fizeram parte do movimento.

Este período histórico de ascensão do poder totalitário em alguns países da Europa é o ponto de partida para que o diretor Peter Cohen delineie, no documentário Arquitetura da Destruição, a teoria de que as bases do nazismo na Alemanha tenham sido construídas em grande parte com um pensamento mais artístico do que político. O interesse de Hitler na arte clássica, por exemplo, influenciara muito a sua visão de mundo segundo os ideais greco-romanos, o que se revela de forma nítida nos seus projetos arquitetônicos para várias cidades europeias.



Cohen estrutura todo o seu filme de forma a investigar as relações entre a arte e o nazismo. Enquanto Bellocchio nos mostra, em Vincere, que a presença do duce italiano na exposição futurista representava uma legitimação da arte pelo poder, resultante da associação deliberada e subseqüente apoio do futurismo à ideologia fascista, em Arquitetura da Destruição, Cohen apresenta uma tentativa do Terceiro Reich em associar-se, ideológica e esteticamente, a uma arte clássica. Para tanto, Hitler inicia um processo de restrição de liberdades criativas e destruição de obras realizadas pelo movimento expressionista. Em 1937, os nazistas inauguram a exposição de Arte Degenarada (Entartete Kunst), onde obras de artistas expressionistas eram apresentadas como produto plástico de mentes subversivas que exaltavam a doença psicológica e a deformidade física.

Em Arquitetura da Destruição, o ideal utópico megalomaníaco do totalitarismo se configura como oposição máxima ao que defendiam os dadaístas e os surrealistas. Enquanto na Itália o movimento futurista esvaía-se na própria ideologia, marcada como anti-humanista e rechaçada tão logo o fascismo entrasse em derrocada, o surrealismo propunha novos parâmetros de pensamento liberto da moral e o dadaísmo legitimava seu lugar na história da arte como o movimento responsável por abrir um caminho novo e repleto de possibilidades, onde a ideia se apresentava livre da tradição estética, permitindo uma abrangência condizente com o cenário em constante transformação do mundo moderno.

quarta-feira, 16 de maio de 2012


Vincere + Undergågens Arkitektur + Le Ballet Mécanique

Futurimo e Benito Mussolini
É a partir da Itália que fundou-se o futurismo mas esse movimento não seria puramente  italiano, mas de importância mundial.  Filippo Tommaso Emilio Marinetti é o fundador e principal teórico do futurismo. No seu livro de poesias Guerra, a única Higiene do Mundo (1915) comemora o início da I Guerra Mundial (1914-918) e pede a entrada da Itália no conflito. Em 1919 adere ao fascismo e torna-se seguidor entusiasta de Benito Mussolini. Mussolini foi um dos fundadores do fascismo italiano que é uma doutrina totalitária desenvolvida a partir de 1919.
O principio unificador era a paixão pela velocidade, o poder, as novas máquinas, tecnologias e o desejo de transmitir o “dinamismo”. Os futuristas apresentam um conceito de “linhas de força”. Os objetos revelam em suas linhas a calma ou o frenesi, a tristeza ou a alegria. Apesar de uma arte inovadora essa vanguarda ideologicamente é antidemocrática militarista e machista, associando-se às ideias fascistas de Benito Mussolini. O nono item do manifesto futurista declarava:” Glorificaremos a guerra- a única verdadeira higiêne do mundo-, o militarismo, o patriotismo, destrututivo do anarquista, as belas ideias que matam e desprezo á mulher.”
No filme de Marco Belloncchion, Vincere, Benito mussolini está a visitar a exposição futurista de 1917. Declara: ” que alegria, o ta-ra-ta-ta das metralhadoras. A Italia precisa de gente disposta a arriscar a pele, a derramar o próprio sangue da vitória. Somente assim se pode mudar. O futurismo é a centelha que fará incendiar a podridao de nosso tempo. Viva a guerra! Viva o futurismo!” E continua a passear pelos quadros fazendo barulho de explosões.
Le Ballet Mécanique de Fernand Léger é um vídeo experimental com princípios do futurismo, o desejo de transmitir o dinamismo.  Em 1914,  com o início da Primeira Grande Guerra,  Fernad Léger foi recrutado para as trincheiras. Após esta etapa da sua vida, a sua pintura passou a representar a sua admiração pelos objetos mecânicos, tendo especial interesse pelos tanques de guerra. Na segunda guerra mundial exilou-se nos Estados Unidos da América. Ainda na segunda década do século, em 1924 produz e dirige Le Ballet Mécanique. No concerto, o ballet é uma dança de objetos mecânicos.  A combinação das  imagens parece feita por um caleidoscópio sempre em movimento.

Dadaísmo e Segunda Guerra Mundial
Dadá, em romeno significa “sim, sim”, e em francês, um cavalinho de pau. O dadáismo foi um fenomeno internacional e multidisciplinar, e significou um estado mental. Os conceitos e idéias se desenvolveram em New York, Zurique, paris, Paris e Berlim, durante e após a segunda guerra mundial, á medida que jovens artistas se agrupavam com o intuito de expressar sua indignação pelo conflito. Pare eles, os horrores da guerra, em escala cada vez maior, provavam a decadência e a hipocrisia de todos os valores estabelecidos. Eles se voltaram contra instituiçoes políticas e sociais.
 Formado por um grupo de escritores, poetas e artistas plásticos, dois deles desertores do serviço militar alemão, liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp. Tristan Tzara, pseudônimo de Samuel Rosenstock, seu pseudônimo significa “triste terra”, tendo sido escolhido para protestar o tratamento dos judeus na Roménia. Hugo Ball  era filósofo e romancista protestou “contra o humilhante fato de haver uma guerra no século XX”, fazendo-o questionar-se acerca dos valores tradicionais. Acreditavam que a única esperança para a sociedade era destruir aqueles sistemas baseados na razão e na lógica, substituindo-os por valores ancorados na anarquia, no primitivismo e no irracional. Muitos dos fundadores posteriormente deram início ao surrealismo.

Surrealismo/Outsider Art e Adolf Hitler
Adolf Hitler foi o líder do Partido Nacional Socialista dos trabalhadores Alemães. Segundo o filme “Arquitectura da Destruição”, é possível apontar aproximações entre o compositor Richard Wagner e Adolf Hitler. Wagner era o artista criativo e político, em uma só pessoa. Hitler absorveu a propostas de Wagner: o anti-semitismo, culto ao legado nórdico e o mito do sangue puro deram contorno a visão de Hitler sobre o mundo. Também de Wagner vieram as noções de arte para uma nova civilização. Uniria Vida e Arte.
Em 1930 é a ascensão de Hitler ao poder. O programa exige que a arte e cultura bolchevique seja banida, sejam destruídas. Os trabalhos serão mostrados publicamente e depois queimados.
Entre 1929 e 1933, varias exposições temporárias de Arte Marginal foram realizadas na França, Suíça e Alemanha. O grande impacto despertou uma violenta oposição daqueles que não aceitavam o valor artístico das obras. Em 1933 a Clinica de Heideberg é tomada pelo nazismo. A colecção de Heidelberg contém desenhos, pinturas e bordados de doentes de varias clinicas e nacionalidades. Instala-se o programa de exterminação dos doentes mentais e usa a colecção para fins de propaganda nazista. Na Alemanha e na Áustria inicia-se o programa de exterminação dos doentes mentais e usa a colecção para fins de propaganda nazista.
Em 1937 são realizados na Alemanha e na Áustria uma série de exposições da chamada “arte degenerada”. A arte degenerada estava em oposição as manifestações de arte “sadia”. Essas exposições depreciavam o acervo de Heidelberg e obras de artistas de arte moderna, como Cézanne, Van Gogh, Klee, Kandinski, Kokoshka, Chagal entre outros. A arte era de fundamental importância para a campanha nazista, tinha um enfoque preconceituoso, negando qualquer valor artístico. A degeneração cultural era considerada uma ameaça. Essa atitude nazista acabaria por afirmar o valor artístico. Comprovaria que não há fronteiras entre os ditos normais e loucos.
Os surrealistas foram os descobridores do valor artístico da produção dos loucos. A produção dos esquizofrénicos esta em primeiro lugar. A arte psicótica não é mantida a margem. É reencontrada a função do louco na sociedade, trata-se de reconhecer aos marginais da arte o direito de existir, e as suas obras. “ Nas instituições psiquiátricas do mundo inteiro são rotuladas como seres embrutecidos e absurdos. Apesar dessa trágica concepção, desse abismo criado pela ciência, surgem, do mais profundo da alma, imagens mais inusitadas e belas.”

Vincere / Arquitetura da Destruição / L'Etoile de Mer


A arte normalmente traduz os sentimentos e aflições da época em que é produzida, mesmo nos movimentos de vanguarda, os artistas seguem seus impulsos de produção que estão necessariamente atrelados ao contexto histórico podendo ser inclusive de negação a essa realidade. 
No filme Vincere, o diretor trás a ascensão do ditador italiano Mussolini, desde sua época de militante político, até sua chegada ao poder. Nesse seu processo houveram diversos fatores que levaram à sua conquista, e um deles é a situação política e cultural na qual a Itália estava inserida na época. Os meios que dispomos para perceber quais eram os anseios da população italiana naquele momento histórico pode ser visualizado pelas produções artísticas, sendo o Futurismo o movimento artístico que ganhava força nesse período. 

O Futurismo teve início na Itália, e sua ideologia está pautada na idolatria a tecnologia. Com toda a efervescência das industrias, o aperfeiçoamento dos produtos mecânicos trouxe para o imaginário da época toda uma gama de possibilidades para o futuro da humanidade, sendo isso reproduzido nas produções artísticas, com pintores, poetas, compositores, arquitetos, entre outras manifestações. Já em seu viés político, o movimento dialoga com ideologias fascistas e nazistas, tendo em vista que há semelhanças ideológicas, como a forte tendência militarista somada a perspectiva de higienização social, a rejeição a tradição, e a obsessão as máquinas. 

O filme Arquitetura da Destruição traça melhor esse paralelo, trazendo todo o conceito artístico do movimento nazista, a partir da visão de Hitler. Porém o movimento nazista teve uma dimensão maior do Futurismo, foi como uma expansão e consolidação de suas principais ideias, sendo produzido inclusive projetos arquitetônicos inteiros nessa ótica, isso sem dizer do programa militar nazista que possuía especial atenção, junto com suas políticas de genocídio visando a higienização social. 

A partir do movimento Dadaísta, percebe-se uma nova abordagem na arte, as produções artísticas perdem a postura racional e controlada e entram no terreno da subjetividade e da crítica. Os ideais do movimento dadá extrapolam o limite teórico e partem para um coletivo onde os membros incorporam os conceitos como um de estilo de vida dadaísta, surgindo uma especie de comunidade. Os seus artistas são dotados de um senso de ironia, sarcasmo, humor e agressividade no qual buscam questionar a moralidade e o senso comum na sociedade ocidental.
Na medida em que o movimento se consolidava no cenário mundial, e outros artistas influenciavam o desenvolvimento do Dadaísmo o diálogos com outras produções se tornaram mais evidentes, trazendo uma força de crítica cada vez mais acentuada, inclusive sobre o próprio conceito de arte. Duchamp promove a popularização do movimento fazendo obras no qual satiriza vários ícones da arte mundial, como por exemplo a Monalisa de Leonardo da Vinci. 

Já nos trabalhos de fotografia e filmagem de Man Ray, mais especificamente L'Etoile de Mer, temos uma linguagem ousada, que dá a impressão de ser uma tentativa de explicitar como estão as relações nos tempos modernos. Man Ray associa a inclusão das tecnologias e do cotidiano moderno às novas relações sociais, trazendo imagens que mostram comportamentos paranoicos e mudanças nas relações amorosas.