quinta-feira, 11 de outubro de 2012


Entrelaçando Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e os filmes Arquitetura da Destruição, 
Ballet Mecánique e Vincere

O Futurismo tinha em comum com o nazismo, o ideal de limpeza e a adoração a tudo que fosse relacionado à guerra, às máquinas, além da elevação da violência. Para os futuristas, através da guerra, o mundo seria higienizado com a destruição dos museus e de cidades antigas. De acordo com os futuristas, tudo que era novo possuía maior valor. Entretanto, Hitler valorizava os ideais clássicos. Ao contrário dos futuristas que também nutriam aversão ao presente, possuíam o desejo de voltar ao passado, ao período clássico, no auge de Roma e Grécia, ou seja, construir um novo futuro alicerçado nos ideais clássicos. Já os futuristas, desejavam um mundo diferente do presente, mas que não tivesse nenhuma relação com ideias do passado. O futuro deveria ser cheio de velocidade e máquinas. Os ideais do nazismo, que pela força de seu líder, quase se traduz em sua figura, Adolf Hitler, são representados em Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen e narra com detalhes a ascensão e a queda da Alemanha nazista com suas práticas “higiênicas” em busca de uma sociedade perfeita.



Mas o ideal de embelezamento do mundo do nazismo também era partilhado pelo Dadaísmo, entretanto eles não compartilhavam dos mesmos meios para alcançar esse ideal já que eram totalmente contrários à guerra. Nem dos princípios da velocidade e da adoração às máquinas do Futurismo os dadaístas se sentiam atraídos. O Dadaísmo buscava uma atualização da arte que estivesse de acordo com o homem moderno e seu alvo eram aqueles com valores tradicionais e que valorizavam noções artísticas convencionais. Esperavam conseguir essa mudança por meio do choque que causavam as suas apresentações. Enquanto os dadaístas idealizavam o novo na arte, assim como os futuristas, diferenciando-se pelos meios de se conseguir essas inovações, Hitler valorizava as obras clássicas, pois associava a arte moderna ao bolchevismo e aos judeus e a considerava degenerada, distorcendo o valor humano e representando as deformações genéticas existentes na sociedade.
Já o Surrealismo tem em comum com o Dadaísmo o ativismo para superar valores tradicionais artísticos, mas diferenciam-se no que tange aos ideais construtivos que os dadaístas não possuíam. A relação que se pode fazer com o nazismo seria a busca de um mundo totalmente diferente, um mundo de “sonhos”, mas por meio opostos. O primeiro, pela repressão, enquadramento e eliminação daqueles que não são considerados dignos de existência como os judeus e os deficientes, e o segundo, pela libertação dos instintos inconscientes, referência que faziam à psicanálise.
O Ballet Mécanique é uma obra de Férnand Léger, um pintor cubista de grande projeção. Possui valores futuristas, o que é compreensível pela influência que o Cubismo exerceu sobre o Futurismo. O filme possui muita velocidade com várias imagens do humano e da máquina se contrapondo e se justapondo numa espécie de fusão entre homem e máquina. Léger possuía fascínio pela sociedade industrial do século XX e, por isso, se dedicou a estudar geometria, formas e funcionamento das máquinas. O filme não possui sons humanos, apenas que remetam às máquinas, ao movimento veloz, quase ininterrupto, o movimento do progresso, da evolução por meio das máquinas. A violência com que as pessoas são manipuladas juntamente com a valorização das máquinas remete à medicina nazista que poderia ser traduzida pela manipulação genética ao ponto de “construir” o ser humano perfeito, ideal, limpo, perfeito e produtivo justamente como uma máquina.


Vincere, de Marco Belloccio, relata a trajetória de Ida Dalser em sua relação com Benito Mussolini, nos anos 20, no processo onde ele se torna um ditador na Itália, o II Dulce (O Líder). Mussolini também exaltava a guerra, assim como Hitler. Sua ascensão ao poder se deu por meio da guerra, da unificação de uma identidade da nação e da centralização da figura do líder como o único detentor da razão e da verdade, contrário até mesmo às religiões. A despeito de toda misoginia existente em todos os movimentos artísticos referenciados, o filme conta a história sob a ótica de uma mulher, vista como louca, na época.


Um trecho do Manifesto Futurista (1909), traduz o “espírito da guerra” partilhado tanto por Mussolini quanto por Hitler:
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.