Why Not Sneeze Rose Sélavy ?
Marcel Duchamp, 1921
11,4 x 22 x 16 cm
Original na coleção Louis and Walter
Arensberg, no Philadelphia Museum of Art
Nessa obra, Duchamp
encheu uma pequena gaiola branca de ferro com 152 pedaços de mármore branco
cortados em forma de cubos de açúcar.
Dentro da gaiola tem também um termômetro de mercúrio, um osso de choco,
poleiros de madeira, e dois pequenos pratos de porcelana.
O título da obra
está inscrito na parte de baixo da gaiola em letras de fita adesiva preta, e é
refletido num espelho. Na obra original, as letras foram dispostas normalmente,
o que faz com que leiam-se as palavras invertidas. Já nas réplicas, as palavras
foram invertidas de modo a serem lidas normalmente no espelho.
Rose Sélavy em
francês é um homófono para ‘Eros c’est la vie’, ‘o amor é a vida’. Era um dos
pseudônimos de Marcel Duchamp.
‘Why not sneeze’ é
uma interrogação, e quer dizer « por que não espirrar ». A pergunta é
então feita para, e talvez por, Rose Sélavy.
A obra é uma
escultura ‘readymade’, ou melhor, um ‘readymade assistido’, ou ainda um
‘semi-readymade’, já que o objeto original foi modificado pelo artista., que
adicionou a ele os outros objetos. Foi o último readymade produzido por Duchamp.
Várias réplicas da
obra existem, feitas por Duchamp, mas só na original tem escrito nos pedaços de
mármore ‘Made in France’. Os cubos de mármore pesam mais que cubos de açúcar do
mesmo tamanho, o que causa uma diferença de peso considerável se alguém for
tentar levantar a gaiola pensando que essa contém açúcar.
O fato de ter um
osso de chocó dentro da gaiola reforça a ideia de que se trata de uma gaiola de
pássaro.
Duchamp fez a versão
original de Why Not Sneeze Rose Sélavy ? em Nova Iorque a pedido de
Dorothy Dreier, irmã de Katherine Dreier, uma de suas maiores colecionadoras
nos Estados Unidos. Dorothy pagou 300 dólares e pediu que Duchamp fizesse o que
quisesse. Como o artista não queria fazer uma pintura, ele disse a Dorothy que
faria o que lhe viesse à mente. Porém, a obra não agradou a Dorothy, nem a sua
irmã Katherine, e elas pediram que Duchamp a vendesse para outra pessoa. A
escultura foi então adquirida por Walter Arensberg, e juntada à coleçao Louis
and Walter Arensberg em 1934.
Duchamp diz que a
transformação do açúcar em mármore tem um efeito mitológico, e numa explicação
para a obra, o artista involve a frieza do mármore, o termômetro medindo a
temperatura, e o espirro, que pode resultar do frio. Duchamp explicou que o
termômetro era pra registrar a frieza do mármore, já que é o frio que provoca o
espirro.
Quanto ao título da
obra, Duchamp aponta uma dissociação na pergunta ‘por que não espirrar ?’,
já que o espirro acontece independentemente da vontade da pessoa. Assim, durante uma entrevista para a
televisão francesa em 1963, o artista disse que a resposta para a pergunta é
simplesmente que não se espirra de propósito.
‘Espirrar’ pode
também referir ao orgasmo, fazendo com que o título seja assim um convite sexual.
Apesar dessa interpretação sexual, os cubos de mármore sugerem frigidez, e a
gaiola pode ser vista como uma imagem de confinamento. Dessa maneira, a obra
pode sugerir a supressão do clímax érotico.
O historiador de
arte Jerrold Seigel também sugeriu que o posicionamento das palavras do título,
uma por linha, faz com que elas sejam lidas num ritmo que para e inicia, que
todos identificam com o sentimento do espirro iminente. Seigel também disse que
uma resposta possível à pergunta, é que Rose prefere o estado permanente de
antecipação, que é não espirrar para soltar a tensão que a pequena explosão
traria ; por eros ser desejo, retardar é o unico jeito para que esse
continue tão forte.
Um pequeno modelo
da obra foi feito para Box in a Valise, escultura de Duchamp, que é uma mala de couro que contém réplicas em
miniatura, fotografias, reproduções coloridas de trabalhos do artista, e um
desenho ‘original’. O pequeno modelo de Why Not Sneeze Rrose Sélavy ? parte
de uma foto (2D) do readymade, da qual as partes superior e laterais foram
cortadas e a parte destacada foi dobrada no formato de um prisma sólido (3D).
Temos então uma superficie 2D que simula um objeto 3D. A dimensionalidade do
objeto tem assim um valor entre 2 e 3.
Fontes de pesquisa:
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