domingo, 8 de abril de 2012

Le Bec Auer

Le Bec Auer, água-forte, 1968.


A obra Le Bec Auer é uma gravura de técnica água-forte, datada de 1968, último ano da vida de Marcel Duchamp e faz parte de uma série de dezoito águas-fortes concebidas e elaboradas num período de quatro anos. Tais gravuras constituem-se no mais extenso conjunto de ilustrações dedicado pelo artista a um livro desde então. Este conjunto de ilustrações está dividido em dois volumes, cada um com nove gravuras e que integram o livro chamado The Large Glass and Related Works, de Arturo Schwartz. O primeiro volume apresenta, através das sete primeiras águas-fortes, os sete elementos mais importantes de O Grande Vidro; as duas últimas falam de como a obra era antes de se quebrar e como possivelmente seria se tivesse sido finalizada. 

O Grande Vidro, 1915.


No volume dois, Duchamp explorou o ciclo de Les Amants e deu continuidade a narrativa da Noiva e do Celibatário que fora interrompida num momento crucial de O Grande Vidro – o momento em que os dois estão prestes a se encontrar. Le Bec Auer faz parte do segundo volume de ilustrações e, cronologicamente, é a quarta gravura do conjunto, embora isto não corresponda com a ordem lógica da história. Compreende uma das cinco gravuras que mostram os amantes em vários momentos de amplexo amoroso. 

À Propos de Jeune Soeur, 1911, Óleo sobre Tela, 73x60.


O bec auer – um tipo especial de lampião de gás, que a mulher aparece segurando – parece ser a mais evidente fonte iconográfica desta gravura. Este lampião pode ser encontrado nos primeiros trabalhos de Duchamp, a exemplo de um retrato que ele fez de sua irmã Suzzanne, em 1911, À Propos de Jeune Soeur, e também em Portrait de Joueurs D´échecs. O lampião de gás é uma fonte de luz que se interpõe entre a realidade referencial e o olho do artista, uma vez que a iluminação possui o poder de desvelar, mas também de distorcer. Numa pintura, por exemplo, ele pode conferir desvio colorante, pois o gás atribui uma cor verdejante aos objetos. Duchamp mesmo explicara que “Quando você pinta à luz verde e que você olha no dia seguinte à luz do dia, é muito mais violeta, mais cinza, ao modo como pintavam os cubistas nesse momento. Era um procedimento fácil para obter uma descida de tons, uma grisalha.” Para Duchamp o poder colorante equivale à luz. Finalmente, é possível perceber que a figura da mulher em Le Bec Auer é evocada em Étant Donnés através da luz acesa do bec auer, nudez exposta, colorida e relacionada ao poder feminino de dar à luz.


Referência Bibliográfica

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