sábado, 8 de setembro de 2012

Deslizante contendo moinho d’água em metais vizinhos 
“...usar permanência em vez de quadro ou pintura; pintura em vidro se torna permanência em vidro – mas permanência em vidro não significa pintura em vidro. É apenas uma maneira de se conseguir deixar de pensar que a coisa em questão é uma pintura (...) – poder-se-ia dizer uma permanência em vidro da mesma maneira como um poema em prosa ou uma escarradeira em prata” Marcel Duchamp, Duchamp du signe.



Marcel Duchamp (1882-1968) foi um pintor, escultor, e poeta francês naturalizado norte americano em 1955. Precursor da arte conceitual e criador dos ready mades que consistem no deslocamento de um objeto cotidiano em obra de arte, redefinindo os conceitos de espaço e de objeto artístico. Na arte conceitual as ideias importam mais do que o produto em si; e há uma forte crítica ao processo de produção e industrialização das obras de arte. No seu desenvolvimento a arte moderna rompe “... com todo padrão de representação que atribuía à arte a função essencial de retratar uma realidade natural ou histórica, e que até meados do século XIX introduzia seus objetos artísticos em um curioso jogo de representação em que estes como que buscavam ocultar de seus fruidores as marcas da sua própria natureza enquanto objetos de arte” [1].
Man Ray, 1917
Duchamp é também um expoente do movimento Dada. De alcance internacional, o dadaísmo representava um estilo de vida, um estado mental, onde o artista deveria destruir os valores baseados na razão e na lógica; lembrando que o fenômeno dada surgiu no pós-guerra, suscitando a indignação e a rebeldia dos artistas que viam na anarquia e no irracional uma forma de combater e rejeitar as tradições artísticas e de denunciar o absurdo e a hipocrisia nas relações humanas.
Glissière contenant un moulin à eau en métaux voisins, (Deslizante contendo moinho d’água em metais vizinhos) é uma escultura/pintura de 1913-15 em óleo, chumbo, fios de chumbo e vidro (147 x 79 cm) [2], contendo uma imagem prensada entre duas placas de vidro semicirculares, cuja moldura de metal é dividida em compartimentos onde assentam os vidros, montada numa dobradiça móvel que permite afastá-la da parede. É o primeiro estudo sobre vidro de Duchamp, que mais tarde passaria a integrar a obra “A noiva despida pelos celibatários, mesmo ou o Grande Vidro” (1913).
Duchamp teria a imaginado após visita a uma exposição de tecnologia da aviação. Inspirado nas mudanças tecnológicas e no pensamento científico da época ele cria uma série de obras que abordam o movimento das máquinas: “Moinho de café” (1911); “9 moldes málicos” (1914-15); “Triturador de chocolate” (1914); e “Roda de bicicleta” (1913) são algumas delas.





[1] “Arte e conceito em Marcel Duchamp: uma redefinição do espaço, do objeto e do sujeito artísticos” por José D’Assunção Barros em Domínios da Imagem, Londrina, ano I, n.2, maio 2008.
[2] Philadelphia Museum of Art. Philadelphia, PA, USA.



 

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