Ballet Mécanique (1924) foi um projeto do compositor Americano
George Antheil e dos artistas Fernand Léger e Dudley Murphy, com a fotografia
de Man Ray. No filme, que foi o primeiro sem cenário, aparecem : uma mulher no balanço, formas geométricas, uma
máquina de escrever, parque de diversões, uma mulher subindo a escada, o
sorriso de uma mulher maquiada, os pés de um manequim em volta de um pêndulo,
um chapéu, um quadro cubista animado de Chaplin, entre outros. Assim, Fernand Léger
mostra uma fascinação por objetos fabricados, em uma harmonia entre o homem e a
máquina. Arquitetura de Destruição (1989) é um documentário produzido e dirigido pelo
cineasta sueco Peter Cohen, que trata do uso da arte e da estética pela Alemanha
nazista.
Ballet Mécanique foi feito em uma época onde era falado de civilização
maquinista. Um novo realismo foi utilizado nesse filme, que mostra que as
máquinas e os fragmentos são plásticos. Essa civilização é muito relacionada àquela idealizada pelos
nazistas, que iam cada vez mais em direção à opressão do homem, já que, como
podemos ver no Arquitetura da Destruição, os nazistas começaram seu
discurso estético e biológico condenando os manicômios, lugares com uma
qualidade de vida elevada, ao contrário do resto do povo alemão; em seguida o
discurso nazista se virou para os enfermos, defendendo a eutanásia sem
autorização da família, no documentário nazista mostrado, tem-se a afirmação de
que “na natureza, tudo o que não é adequado perece”, usando-se da teoria da
“seleção natural” de Darwin, só que aplicada num contexto bem diferente
daquele. Os nazistas continuaram então a eugenia com a morte de crianças portadoras
de má formação, em seguida com a exterminação de judeus estrangeiros, depois
com a exterminação de judeus alemães. Assim, a ideologia nazista, como toda
ideologia levada ao extremo, foi, aos poucos, destruindo os próprios grupos,
porque nenhuma medida era suficiente para que eles chegassem em sua utopia
ariana. Com essa tendência à autodestruição, a única coisa que permanecia
intacta ou amelhorada, eram as máquinas, cada vez mais potentes e domindoras,
enquanto o homem se exterminava. Assim, como em Ballet Mécanique, a
performance não é estrelada por humanos, mas sim por máquinas.
Outro aspecto que pode relacionar os dois filmes, é o conceito de
“arte degenerada”, que era a plataforma oficial adotada pelo regime nazista
para proibir a arte moderna, e que era a favor da arte oficial, chamada de
“arte heróica”. Em 1937, os
nazistas organizaram em Munique uma grande exposição de arte degenerada,
apresentada como produto dos bolcheviques e dos judeus. A exposição apresentava
trabalhos de doentes mentais, e trabalhos de artistas de vanguarda, colocando
todas no mesmo nível de perversidade. Os estilos encriminados pelos nazistas e
considerados como arte degenerada eram o dadaísmo, o cubismo, o expressionismo,
o fauvismo, o impressionismo, o surrealismo, o abstrato, e o futurismo.
Apesar de Fernand Léger e
Man Ray não serem estigmatizados como produtores dessa arte degenerada, Ballet Mécanique se encaixa muito
bem na descrição nazista do que não podia ser feito na arte. Com uma visão
cubista, futurista e dadaísta, é criada uma nova percepção visual, onde várias
imagens aparentemente aleátorias do dia-a-dia das pessoas são tiradas de seu
contexto, repetidas, e interpostas a textos que também são descontextualizados,
como por exemplo “on a volé un collier de perles de cinq millions”, que pode
ser entendido como “roubamos um colar de pérolas de cinco milhões”, ou ainda
“roubaram um colar de pérolas de cinco milhões”, e que provavelmente foi tirada
de uma manchete de jornal, mas não há nenhuma explicação nem ligação visível. O
filme que segue a “lógica” dadaísta, que é justamente a falta de lógica, é
contrário aos padrões de beleza da “grande arte” que Hitler via na antiguidade
clássica.
Pode-se concluir então que apesar do contexto social, politico e
econômico de Ballet Mécanique e Arquitetura da Destruição serem
muito próximos, o que os opõe é a maneira de representar essa sociedade, que
naquele é claramente admitida como incoerente e opressora da humanidade, e que
nesse só é admitida sua representação se ela for colossal e clássica.
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