terça-feira, 15 de maio de 2012

Arquitetura da Destruiçao / Ballet Mécanique


Ballet Mécanique (1924) foi um projeto do compositor Americano George Antheil e dos artistas Fernand Léger e Dudley Murphy, com a fotografia de Man Ray. No filme, que foi o primeiro sem cenário, aparecem : uma mulher no balanço, formas geométricas, uma máquina de escrever, parque de diversões, uma mulher subindo a escada, o sorriso de uma mulher maquiada, os pés de um manequim em volta de um pêndulo, um chapéu, um quadro cubista animado de Chaplin, entre outros. Assim, Fernand Léger mostra uma fascinação por objetos fabricados, em uma harmonia entre o homem e a máquina. Arquitetura de Destruição (1989) é um documentário produzido e dirigido pelo cineasta sueco Peter Cohen, que trata do uso da arte e da estética pela Alemanha nazista.
Ballet Mécanique foi feito em uma época onde era falado de civilização maquinista. Um novo realismo foi utilizado nesse filme, que mostra que as máquinas e os fragmentos são plásticos.  Essa civilização é muito relacionada àquela idealizada pelos nazistas, que iam cada vez mais em direção à opressão do homem, já que, como podemos ver no Arquitetura da Destruição, os nazistas começaram seu discurso estético e biológico condenando os manicômios, lugares com uma qualidade de vida elevada, ao contrário do resto do povo alemão; em seguida o discurso nazista se virou para os enfermos, defendendo a eutanásia sem autorização da família, no documentário nazista mostrado, tem-se a afirmação de que “na natureza, tudo o que não é adequado perece”, usando-se da teoria da “seleção natural” de Darwin, só que aplicada num contexto bem diferente daquele. Os nazistas continuaram então a eugenia com a morte de crianças portadoras de má formação, em seguida com a exterminação de judeus estrangeiros, depois com a exterminação de judeus alemães. Assim, a ideologia nazista, como toda ideologia levada ao extremo, foi, aos poucos, destruindo os próprios grupos, porque nenhuma medida era suficiente para que eles chegassem em sua utopia ariana. Com essa tendência à autodestruição, a única coisa que permanecia intacta ou amelhorada, eram as máquinas, cada vez mais potentes e domindoras, enquanto o homem se exterminava. Assim, como em Ballet Mécanique, a performance não é estrelada por humanos, mas sim por máquinas.
Outro aspecto que pode relacionar os dois filmes, é o conceito de “arte degenerada”, que era a plataforma oficial adotada pelo regime nazista para proibir a arte moderna, e que era a favor da arte oficial, chamada de “arte heróica”.  Em 1937, os nazistas organizaram em Munique uma grande exposição de arte degenerada, apresentada como produto dos bolcheviques e dos judeus. A exposição apresentava trabalhos de doentes mentais, e trabalhos de artistas de vanguarda, colocando todas no mesmo nível de perversidade. Os estilos encriminados pelos nazistas e considerados como arte degenerada eram o dadaísmo, o cubismo, o expressionismo, o fauvismo, o impressionismo, o surrealismo, o abstrato, e o futurismo.
Apesar de Fernand Léger e Man Ray não serem estigmatizados como produtores dessa arte degenerada,  Ballet Mécanique se encaixa muito bem na descrição nazista do que não podia ser feito na arte. Com uma visão cubista, futurista e dadaísta, é criada uma nova percepção visual, onde várias imagens aparentemente aleátorias do dia-a-dia das pessoas são tiradas de seu contexto, repetidas, e interpostas a textos que também são descontextualizados, como por exemplo “on a volé un collier de perles de cinq millions”, que pode ser entendido como “roubamos um colar de pérolas de cinco milhões”, ou ainda “roubaram um colar de pérolas de cinco milhões”, e que provavelmente foi tirada de uma manchete de jornal, mas não há nenhuma explicação nem ligação visível. O filme que segue a “lógica” dadaísta, que é justamente a falta de lógica, é contrário aos padrões de beleza da “grande arte” que Hitler via na antiguidade clássica.
Pode-se concluir então que apesar do contexto social, politico e econômico de Ballet Mécanique e Arquitetura da Destruição serem muito próximos, o que os opõe é a maneira de representar essa sociedade, que naquele é claramente admitida como incoerente e opressora da humanidade, e que nesse só é admitida sua representação se ela for colossal e clássica.

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